
Peraí… cadê o truque?
Ele entrou na galeria meio distraído.
Tinha vindo acompanhar um amigo. Não era “do mundo da arte”. Não sabia muito bem o que esperar.
Mas ali, no canto da sala, uma imagem chamou atenção. Colorida. Pop. Com uma Pantera-cor-de-rosa que parecia ter algo a dizer.

Chegou mais perto.
Olhou.
Achou bonito — mas havia algo diferente. Não sabia explicar.
Um discreto convite impresso embaixo do quadro:
Toque. Escaneie. Descubra.
Pegou o celular, meio cético, como quem vai fazer um teste rápido só pra não sair dizendo “não funciona”.
Apontou a câmera.
E então… ela piscou.
A Pantera ganhou vida.
Fez um gesto, dançou, olhou pra ele como se soubesse de alguma coisa que ele não sabia.
A imagem no celular se mexia com fluidez, com presença, com charme.
Era arte, mas era outra coisa também. Uma experiência.

Ele deu um passo pra trás. Franziu a testa.
Olhou ao redor pra ver se alguém explicava.
Voltou os olhos pra mim, que estava sentado num canto discreto da galeria.
— Peraí… cadê o truque? — ele soltou, rindo, com um certo desconcerto.
Eu apenas sorri.
Porque é sempre esse momento que me interessa.
Quando alguém para de tentar entender como,
e começa a sentir por que aquilo mexeu com ele.
Não tem truque.
Tem escolha, camadas, tecnologia invisível,
e semanas de obsessão pra cada detalhe se alinhar com o gesto certo.
O que ele viu durou alguns segundos.
O que ele sentiu, talvez dure mais.
E é isso que eu tento criar.
Não arte digital.
Não só um quadro.
Mas um instante onde a curiosidade e a emoção se encontram —
e ninguém sabe exatamente por quê.
